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PELOTÃO

APOIO DIRETO

9773/74

ULTRAMAR - Moçambique

Julho 1974 a Maio 1975

Nampula ● Porto Amélia ● Mocimboa da Praia ● Palma ● Dondo ● Beira ● Lourenço Marques

BEM-VINDOS

Bem-vindos ao site do Pelotão de Apoio Directo 9773/74 que esteve em missão em Moçambique.

Após 14 anos em que tivemos o primeiro site que infelizmente foi removido por motivos alheios, voltamos com este novo sítio que continuará em permanente construção, de forma recolher e ir complementando dados e histórias dos tempo passados em Moçambique. A todos os meus companheiros, peço a vossa colaboração com todo o material que disponham para ir alimentando o nosso site com o que for possível.
Um grande e forte abraço.

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MOBILIZAÇÃO
PARA MOÇAMBIQUE

O PAD 9773/74 foi formado na Companhia Divisionária de Manutenção de Material (CDMM) no Entroncamento, com destino às longínquas vilas de Palma e Mocimboa da Praia, localidades bem no norte de Moçambique, perto da fronteira com a Tanzânia.

Este Pelotão foi constituído por militares de especialidades militares da área de Serviço de Material, oriundos de várias unidades do país e de diferentes origens naturais de Norte a Sul de Portugal.

Partimos para terras da África austral no dia 20 de Julho do ano de 1974 pelas 22 horas no aeroporto de Lisboa num Boeing 707 dos Transportes Aéreos Militares (TAMs) que chegaria à cidade da Beira no dia seguinte perto das 12 horas locais, isto depois de efectuada uma paragem em Luanda (Angola) de aproximadamente 2 horas.

CHEGADA A MOÇAMBIQUE

Depois de termos chegado a Moçambique no dia 21 de Julho de 1974 pelas 12 horas e passados 2 a 3 dias, tempo suficiente para as formalidades de uma unidade recém-chegada, o pelotão voou até Nampula num Boeing 737 das linhas aéreas de Moçambique (DETA), onde mais uma vez foi necessário alguns apontamentos e certificações de grupo, bem como o levantamento das armas individuais no Batalhão de Manutenção de Material (BMM) que iriam permanecer connosco até ao fim da missão. Ao chegar aqui comecei a sentir as verdadeiras diferenças entre Portugal e no Ultramar, no que dizia respeito às suas gentes, cultura e seus costumes e até na forma do movimento e aparência das nossas tropas havia algo estranho, sentindo-se de facto as vertentes duma guerra colonial.

DE NAMPULA A PORTO AMÉLIA

Cumpridas as tarefas em Nampula que duraram sensivelmente o tempo das realizadas na Beira, o pelotão partiu em coluna em direcção a Porto Amélia, 400 km a percorrer por entre uma vegetação densa na qual a nossa visão não conseguia penetrar o seu interior.

Chegados à cidade de Porto Amélia onde pernoitámos no Batalhão de Caçadores nº14, a realidade começava a assemelhar-se cada vez mais da imagem que tinha imaginado do cenário que viria a encontrar.

DE PORTO AMÉLIA A PALMA

No dia seguinte pelas 7 horas, embarcámos na fragata Pereira D’Eça da Marinha Portuguesa que nos levaria até ao largo de Palma, sobre as águas do oceano Índico, numa viagem que durou 8 horas e que só pelas 22 horas deixámos a embarcação, tomando lugar num pequeno pontão de forma quadrangular que navegava à deriva rebocado por um pequeno barco com motor. A determinada altura e por impossibilidade de continuar a viagem devido à pouca profundidade das águas, foi necessário mudar para um pequeno barco movido apenas por um remo traseiro que servia também de leme. Tudo isto passava-se na escuridão da noite, no maior dos abismos que alguma vez imaginava. Entretanto ao longe já se ouvia o ruído provocado pela corrida do vento, rasgando a floresta nos ramos mais altos, assim como a sonoridade das vozes de quem nos esperava para a sua rendição, incentivando-nos com frases encorajadoras mas ao mesmo tempo irónicas, como era habitual nestas alturas.

Após andar mais algum tempo sobre as águas nesta última embarcação, foi necessário saltarmos com as armas e bagagens para a água devido à pouca profundidade do mar que impossibilitava o avanço do barco. Caminhámos o que restava até terra firme com a água pelos joelhos. Entretanto uma fracção do pelotão seguiu depois para Mocimboa da Praia, ficando um maior número de militares em Palma.

EM PALMA

Depois de uma semana em solo Moçambicano, eis finalmente chegados ao desconhecido em que tudo, outrora assentara numa autêntica ignorância nas nossas mentes. Ficamos então a saber que Palma era um aldeamento, circundado com arame farpado num determinado perímetro que delimitava uma área chamada de segurança, que tinha um Posto de Administração local para além do P.A.D., uma Companhia de Caçadores, onde tomávamos as três refeições diárias e a Companhia de Engenharia que estava lado a lado com Companhia de Transportes.

Em termos de instalações estruturais, era tudo o que havia, quanto à população, viviam em tabancas e palhotas dispersadas por entre a mata florestal, excepto uma ou duas famílias de indianos que tinham habitação constituída com loja incorporada onde vendiam a retalho.

Seguiram-se alguns dias de convívio com os nossos antecessores, o P.A.D. 9773/72, com o propósito da passagem de testemunho e tomada da responsabilidade pelo material existente, pelo que e posto isto,  demos conta da sua partida, passando a ficar desde então entregues a nós próprios, com os concedimentos de Deus, como havia passado com tantos outros. A nossa missão, passava por apoiar directamente as unidades existentes no que dizia respeito à operacionalidade das viaturas e do material existente e foi assim com maior ou menor dificuldade que os dias caminhavam, com mais ou menos preocupações as semanas passavam, desanuviadas ao Domingo de manhã com um banho nas águas onde havíamos desembarcado anteriormente.

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RUMO A NAMPULA

Com o processo de descolonização em curso, ficaria decidido que a antiga província ultramarina começaria a ser cedida às forças da FRELIMO a partir do Norte e passados que foram três meses, recebemos a ordem para partir. Foi então que o grosso do P.A.D. deixou Palma por via marítima, ficando apenas três condutores, o Duarte o Pascoal e o Cruz, o mecânico Oliveira e eu próprio com a missão de levarmos as quatro viaturas do nosso serviço, uma Mercedes, uma Berliet de pronto socorro, um Unimog 404 e um jeep Willys até Nampula, afim de serem entregues no Batalhão de Manutenção de Material (B.M.M.).

Numa tarde, alguns dias depois, partimos então nós em coluna, acompanhados pelo Alferes Ferreira da Companhia de Caçadores e alguns elementos da Companhia de Transportes, rumo a Mocimboa da Praia onde chegámos pela manhã do dia seguinte, foram doze horas para vencer 80 km, numa picada sinuosa e indescritível de peripécias, somente avaliadas por quem as viveu.

Depois de pernoitar por um dia em Mocimboa da Praia, partimos para mais uma aventura até Porto Amélia, agora no sentido inverso e via terrestre. Se dois dias antes  já havia sido difícil, esperava-nos agora um enigma, por todo o trajeto que fizemos atravessando matas de enorme densidade, outras que se alongavam num horizonte tenebroso, pelos episódios vividos e momentos constactados, percorrendo dia e noite caminhos e zonas misteriosas, inimagináveis onde eram bem patentes as marcas de uma guerra, quanto a mim, resultante talvez da insatisfação de quem ao longo dos anos, apercebendo-se duma governação do território conduzida por pessoas de outra origem, que englobava e permitia uma exploração dos produtos lucrativos e também da própria população, quis um dia reivindicar os direitos auto-determinativos dum povo e de um Estado.

E foi com esta constante incerteza, que este pequeno filme terminou ao atingirmos o segundo ponto deste itinerário, para muitos considerado um oásis no norte de Moçambique, Porto Amélia, hoje cidade de Pemba. Seguiu-se o re-temperamento das forças mentais que nos levou a mais uma pernoita no Batalhão de Caçadores, partindo no dia seguinte, agora só nós os cinco, rumo a Nampula.

Já com acessos diferentes, mas ainda limitados, permitia que se fizesse uma condução menos morosa e foi nessa ansiedade de chegar que percorremos os mesmos acessos que nos trouxeram no ínicio da comissão de Nampula para Porto Amélia, agrupando assim a totalidade do P.A.D. 9773/74, uma vez que todos os outros, incluindo os elementos de Mocimboa da Praia já haviam chegado.
Estava assim concluída a missão que iniciámos quatro dias antes em Palma.

EM NAMPULA

Seguiu-se um mês em Nampula, agregados ao Batalhão de Manutenção de Material (B.M.M.), tratando de entre outros assuntos da devolução de algum material por nós levantado aquando da nossa anterior passagem após recém-chegados, assim como o armamento e com o material enviado a partir de Palma para o porto de Nacala, onde posteriormente o havíamos de transportar para o Batalhão.

Praticamente com o nosso trabalho finalizado e a situação definida neste local, partimos para a Beira, um grupo mais cedo por via terrestre, outro grupo mais tarde por via aérea.

DONDO E BEIRA

O grupo onde estava inserido teve como destino a Companhia de Apoio Directo que ficava perto do Dondo. Foi aqui nesta unidade e na cidade da Beira que havíamos de cumprir a maior parte da missão. Foi de facto um tempo inesquecível onde me coube a sorte juntamente com mais quatro Furriéis do P.A.D., Trafaria, Félix, Neves e o Melo, conseguirmos alojamento em quartos nas instalações do antigo Hotel Sol-Mar em plena Beira, que tinha sido adoptado pelo Exército para uso exclusivo e situava-se na marginal entre a Praça da Índia e o antigo Hotel D. Carlos I, na altura Messe dos Oficiais.

Ali, mesmo em nossa frente e sobre uma grande extensão de areia clara paralela à marginal, rebentavam as ondas do Oceano Índico formando uma colcha de espuma sobre um lençol arenoso da praia que frequentamos ao fim de semana e de que guardo algumas recordações. Ao invés, durante a semana, uma viatura da unidade fazia o nosso transporte diário para a Companhia de Apoio Directo, onde cumpríamos as nossas obrigações laborais para com os serviços organizacionais da Companhia e mais pela tarde depois do encerramento dos serviços, regressamos pelo mesmo meio, onde nos esperava um espaço calmo e organizado, a fim de relaxarmos um pouco depois de um chuveiro bem fresquinho. Alguma música gravada pelo Furriel Trafaria, que se fazia acompanhar de um gravador portátil desde Portugal, era o entretenimento para nos fazer esquecer do tempo e camuflamos os sentimentos que nos ligavam àqueles que estavam longe, durante largos momentos. Estas situações por vezes eram trocadas pelas histórias de alguns filmes passados nas salas de cinema da cidade ou até mesmo, usando o jeito e a perícia nas pistas de minigolfe, recentemente abertas na altura. Foram seis meses vividos num cenário bem diferente, onde passámos a ter algumas opções que não tínhamos tido até então. Relembro o final de ano passado no Club Primavera, algumas refeições noturnas no restaurante Kanimanbo, os finais de tarde aos fins-de-semana no Largo do Município, entre outros.

REGRESSO

O tempo passou e assinalou uma data, data essa que antes era imprevisível , mas que agora se tornava numa certeza, a missão que nos haviam confiado estava prestes a ser concluída, restava-nos a consciência do dever cumprido e foi assim já num clima de algum saudosismo por um lado e de muita ansiedade por outro, que partimos de machimbombo para percorrer cerca de 1200 km até Lourenço Marques, hoje Maputo, de onde dois dias depois, a 30 de Maio de 1975 pelas 12:30 iniciámos o regresso a Portugal com escala em Luanda, chegando a Lisboa já no dia seguinte. Menos de um mês depois, a 25 de Junho de 1975 seria celebrada a proclamação da Independência de Moçambique.

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Pel. A/D 9773/74

Documento com a lista de mobilização

Documento Oficial do Exército com a listagem dos nomes, patentes e especialidades de todos os elementos destacados para a missão em Moçambique de desmilitarização.

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SOBRE o AUTOR

NOME

CARLOS FERREIRA

PATENTE

Ex. FURRIEL MILICIANO

Ex-PROVINCIA ULTRAMARINA

MOÇAMBIQUE

UNIDADE MILITAR

PELOTÃO APOIO DIRETO 9773/74

TEATRO DE OPERAÇÕES

PALMA | BEIRA | NAMPULA

DURAÇÃO

JULHO 1974 - MAIO 1975

Companheiros, enviem os vossos dados para que possa compor um artigo com a informação de todos os que pertenceram ao Pelotão de Apoio Directo 9773/74 ou que com ele privaram. Enviem os vossos dados segundo os campos (Nome, Patente, Ex-Província Ultramarina, Unidade Militar, Locais, Período de permanência na ex-Província Ultramarina e Residência, quem quiser poderá também deixar o contato no formulário ao lado. Está também disponível um Chat para podermos falar via Whatsapp.
Alguma questão ou sugestão disponham.

Forte Abraço.

Carlos Ferreira

Ex. Furriel Miliciano

Aires, Palmela

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